terça-feira, 8 de novembro de 2011

HEMOTERAPIA ANIMAL

O uso do sangue total ou seus componentes em separado (obtidos por centrifugação) constitui o que chamamos de hemoterapia. Sabemos que podem existir reações imunomediadas (incompatibilidade sangüínea) ao utilizarmos sangue total (hemácias) nos cães (a partir da segunda) e nos gatos (a partir da primeira).

Quando temos o diagnóstico da patologia a ser tratada por hemoterapia, podemos diminuir e até zerar as chances de reações transfusionais. Saber se nossa necessidade é de hemostasia ou de falta de hemácias é fundamental para elegermos qual produto a utilizar.

Há três fases em que a hemostasia pode ser quebrada. A primeira é por falta de plaquetas. A segunda, por falta de fatores da coagulação. Já na terceira, faltam plaquetas e fatores da coagulação e ocorre aumento dos produtos de degradação do fibrinogênio.
Lembrando sempre que os grupos sanguineos dos animais são em número superior ao do homem, o que dificulta uma tipagem sanguinea doador/receptor em tempo hábil de encontrarmos doadores/receptores compatíveis:

Bovino: 11 tipos
Equino: 8 tipos
Canino: 11 tipos
Felino: 3 tipos
Suíno: 15 tipos
Ovino: 7 tipos.


Produtos sangüíneos
Os produtos sangüíneos utilizados rotineiramente são sangue total refrigerado, sangue total fresco, concentrado de hemácias, plasma fresco congelado e plasma comum congelado. Considera-se sangue fresco aquele que foi coletado e utilizado em até seis horas, sem ser refrigerado. Ele preserva todas as propriedades de hemostasia: plaquetas e fatores da coagulação.

O sangue refrigerado é aquele que, mantido a 4o C, pode ser utilizado em até 30 dias. Mantém hemácias preservadas, assim como plasma, como hematócrito dentro da normalidade da espécie. Não preserva plaquetas e preserva poucos fatores de coagulação.
É bom que se repita: as plaquetas não são fatores da coagulação. Mas sim, fazem parte da primeira fase da hemostasia. Pode haver coágulo sem plaquetas. Plasma comum congelado é aquele que foi separado depois de seis horas e, depois, congelado. Mantém os fatores II, VII, IX e X. É deficiente dos fatores V, VIII e do von Willebrand.

IndicaçõesA hemoterapia constitui-se, na maioria das vezes, um recurso importante (até indispensável), porém, sempre emergencial. Proporciona-nos uma melhora rápida do paciente que está desestabilizado quanto a sua hemostasia ou hemodinâmica. Não trata a doença primária.

Normalmente opta-se pela transfusão sanguínea quando o valor do hematócrito apresenta-se muito baixo:

Cães < 16
Gatos < 14
Equinos < 15
Bovinos < 10
Hemáceas < 50% normal
Algumas aplicações dos produtos sangüíneos:

Sangue fresco- hemorragias maciças que levem à hipovolemia, anemia com trombocitopenia. Sempre que possível fornecer o sangue DEA 1-1 negativo, ou fazer a prova cruzada da compatibilidade;

Sangue refrigerado- hematócrito menor que 20%, principalmente nas anemias arregenerativas;

Plasma fresco- em todos os casos de coagulação intravascular disseminada. Septicemias e insolação são exemplos. Intoxicação por raticidas cumarínicos e acidente ofídico botrópico são outras indicações;

Plasma comum- desidratação com albumina menor que 2 g/cl. Gastroenterites virais e queimaduras são exemplos;

Concentrado de hemácias- anemias graves sem desidratação. Cardiopatas anêmicos ou animais com ancilostomose sem perda de volemia;
Plaquetas - nos defeitos qualitativos ou quantitativos. Intoxicação por antiinflamatórios não-esteróides e erliquiose, respectivamente.

Cuidados na transfusão
O animal doador não deve ser obeso, não deve nunca Ter recebido transfusão sanguinea anterior, evitando assim a exist6encia de anticorpos, Ter idade entre 1 a 6 anos, pesar no mínimo 27 Kg, estarem com as vacinas rigorosamente em dia.

Nos primeiros 10 minutos da transfusão sanguinea o ideal é o controle do tempo de gotejamento do sangue, de 60 a 120 gotas por minuto, sempre observando-se a reação do animal. Passado este tempo a velocidade pode ser um pouco superior.

No caso de animais com anemia crônica, o sangue deve ser passado lentamente para impedir sobrecarga cardíaca (animal tosse, vomita, tem dispnéia e urticária).
Os animais que recebem sangue incompatível apresentam sintomas devido a destruição, em menos de 1 hora, das hemáceas do doador:

- hemoglobinemia
- inquietação
- hemoglobinúria
- ansiedade
- trombocitopenia
- tremores musculares
- leucopenia
- naúsea / vômito
- febre
- apnéia / taquipnéia
- incontinência urinária / fecal
- urticária
- convulsão
- prostração.
Nestes casos devemos aplicar anti-histmínicos, corticosteróides e alfa e beta adrenérgicos para diminuir pressão (à base de dopamina).
As veias de eleição são a jugular e a cefálica.

Conclusão
Podemos dizer que ao utilizar os produtos sangüíneos com critério, as reações transfusionais são menos esperadas. Dessa forma, temos armas terapêuticas algumas vezes salvadoras e insubstituíveis. Toda vez que houver a indicação terapêutica de algum hemocomponente sem hemácias, este será preferível pois assim não sensibilizamos nosso paciente para futuras transfusões de sangue total.

Video: Cão doador de Sangue


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